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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Abriu a torneira entrou pelo cano.


Tive a oportunidade de conhecer os textos de Ignácio de Loyola Brandão quando ainda estava na escola. Uma de suas histórias que sempre tenho em mente é a do homem que entrou pelo cano. Nunca esqueci da frase "Abriu a torneira e entrou pelo cano." . Foi algo que ficou gravado em minha vida. Talvez pelo fato desta simples frase sempre me parecer ser algo tão absurdamente possível.   ;)

O HOMEM QUE ENTROU PELO CANO

Abriu a torneira e entrou pelo cano. A princípio incomodava-o a estreiteza do tubo. Depois se acostumou. E, com a água, foi seguindo. Andou quilômetros. Aqui e ali ouvia barulhos familiares. Vez ou outra, um desvio, era uma secção que terminava em torneira.

Vários dias foi rodando, até que tudo se tornou monótono. O cano por dentro não era interessante.

No primeiro desvio, entrou. Vozes de mulher. Uma criança brincava. Ficou na torneira, à espera de que abrissem. Então percebeu que as engrenagens giravam e caiu numa pia. À sua volta era um branco imenso, uma água límpida. E a cara da menina aparecia redonda e grande, a olhá-lo interessada. Ela gritou:

"Mamãe, tem um homem dentro da pia."

Não obteve resposta. Esperou, tudo quieto. A menina se cansou, abriu o tampão e ele desceu pelo esgoto.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem do furo na mão e outras histórias.
São Paulo : Ática, 1987. p. 25.

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